Quando um microrganismo invasor consegue entrar no nosso organismo, seja ele um vírus ou uma bactéria, o nosso sistema imune é acionado para combatê-lo e impedir que ele invada nossas células e se replique, causando doenças. Várias células e estruturas pertencentes aos braços da imunidade são mobilizadas para os locais onde o invasor está para eliminá-lo. Um dos mecanismos que a imunidade usa para acabar com os patógenos é a inflamação. Logo, de maneira controlada, o processo inflamatório é um fator necessário para que o sistema imune possa exercer sua função de proteção do organismo.
Porém, algumas doenças, como é o caso da COVID-19, se caracterizam por um processo inflamatório exagerado, principalmente devido ao estágio da “tempestade de citocinas”, no qual um excesso de compostos inflamatórios é produzido, e é justamente esse estágio que acaba gerando muitos danos nos tecidos, aumenta a severidade dos sintomas e deixa sequelas no longo prazo. Dessa forma, além de ser necessário diminuir a replicação do vírus, também é importante controlar a inflamação quando um indivíduo está portando a COVID-19.
Os ácidos graxos do tipo ômega 3 são uma classe de gordura poli insaturada que pode auxiliar nesses dois objetivos. Esse nutriente, entre outras diversas funções, é utilizado no nosso organismo para a produção de mediadores pró-resolutivos, como as protetinas e resolvinas, ou seja, moléculas que são capazes de auxiliar no controle e na resolução da inflamação, impedindo que ela atinja níveis exagerados. Além disso, o ômega 3 é incorporado às membranas das nossas células, e quando está presente em níveis satisfatórios, inibe processos importantes que os vírus utilizam para entrar nas células e se replicarem. Esse tipo de suporte oferecido pelo ômega 3 é fundamental em pacientes com COVID-19, especialmente naqueles que têm maiores fatores de risco para desenvolvimento de quadros graves.
Como tudo por volta do SARS CoV-2 ainda é relativamente novo, a ciência é cautelosa quanto à recomendação geral da suplementação de ômega 3 por motivos relacionados à COVID-19. Porém, antes mesmo do surgimento desse vírus, esse nutriente já era reconhecidamente um importante fator nutricional no fortalecimento e melhora da resposta imune, principalmente quando se trata de infecções causadas no trato respiratório. O que é preocupante é o fato de que, no padrão alimentar ocidental, que predomina na população brasileira, os níveis adequados de ômega 3 (entre 1,1 - 1,6g de ingestão diária, para mulheres e homens, respectivamente) dificilmente são atingidos a partir da alimentação, pois a ingestão das principais fontes - como peixes gordurosos e sementes de linhaça, por exemplo - não é suficiente.
Dessa forma, para indivíduos saudáveis manterem seus níveis adequados, a suplementação, apenas para cobrir a recomendação, sem doses extras - pode ser necessária em alguns casos. E esses níveis adequados, além de todos os efeitos positivos do ômega 3 para a imunidade e a saúde de forma geral, podem atuar como fator de proteção contra infecções virais, especialmente pelo SARS CoV-2, causador da COVID-19.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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